Boletim Atual
Normas para Publicação
 
 
Realização

 
 
» Artigo
Impactos das ações juvenis para a superação da violência em Belém do São Francisco (PE)
Por: KOINONIA
Data: 30/04/2008


RESUMO

O texto apresenta o relatório da Pesquisa sobre as Ações Juvenis para a Superação da Violência na Região do Submédio São Francisco, referente ao município de Belém de São Francisco, em Pernambuco. O objetivo da pesquisa feita em 2005, que deu origem ao presente relatório, consiste na tentativa de entendimento do que representa a violência nessa área; como ela é percebida; em que medida ela pode ser analisada por uma perspectiva de superação; e por fim; como se dá concretamente as atividades realizadas por KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço e Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco, naquela região desde 1997, no que se refere à possibilidade de alteração destas relações violentas. Sobre a região vale lembrar que o Submédio São Francisco é classificado como “Polígono da maconha”, o que se mostrou um dado que impulsionou as considerações sobre as representações da violência, na medida em que a inserção desse elemento tenha possivelmente promovido alterações nas relações sociais, representadas pelas relações produtores – não-produtores, usuários – não-usuários entre outras; bem como a relação dos aparatos estatais, em especial a força policial em relação aos segmentos envolvidos pela economia da maconha. O resultado completo da pesquisa ainda contempla os municípios de Macururé e Rodelas, na Bahia; e Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Floresta e Jatobá, em Pernambuco.

Superação da Violência. Pesquisa. Brasil. Pernambuco. Belém do São Francisco

ABSTRACT

The text presents the report of the Research about the Youthful Actions for Overcoming of the Violence in the Submédio São Francisco Area, referring to the city of Belém de São Francisco, Pernambuco. The objective of the research made in 2005, that results in this present report, consists of the attempt to understand what represents the violence in this area; how it is perceived; on which measure it can be analyzed under an overcoming perspective; and, finally, how concretely occurs the activities developed by KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço and Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco in that area since 1997, concerning the possibility of modifying these violent relations. It is interesting to remenber about this area that the Submédio São Francisco is knowledge as polygon of marijuana, which reveals itself a data that stimulated the considerations on the representations of violence, as the insertion of this element has possibly promoted alterations in the social relationships, represented by the producers-non-producers, users-non-users relationships, among others; as well as the relation of the state apparatuses, particularly the police force concerning the segments englobed by the economy of marijuana. The complete result of the research  contemplates yet the cities of Macururé and Rodelas, Bahia; and Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Floresta and Jatobá, Pernambuco.

Overcoming of the Violence. Research. Brazil. Pernambuco. Belém do São Francisco

 

O Programa TRD de KOINONIA realizou em 2005 a Pesquisa sobre as Ações Juvenis para a Superação da Violência na Região do Submédio São Francisco com o objetivo de avaliar os impactos das ações realizadas por KOINONIA/Pólo, naquela região desde 1997. O projeto contou com a parceria do Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco e com o apoio da CESE (Coordenadoria Ecumênica e Serviço)
A pesquisa empreendeu um processo de formação de jovens que aplicaram a pesquisa e construíram - junto com a equipe de KOINONIA - o questionário que foi o instrumento avaliativo para o objetivo da pesquisa. Foram aplicados 712 questionários entre os municípios de Macururé e Rodelas, na Bahia; e Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Belém de São Francisco, Floresta e Jatobá, em Pernambuco.
Publicamos nesta edição do boletim virtual Drogas e Violência no Campo, o relatório referente ao município de Belém de São Francisco que foi produzido pela pesquisadora Priscila Mellin, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O relatório é uma imersão às particularidades daquele município e que se unem ao todo da investigação.
O relatório conclusivo desta pesquisa foi publica no livro “Águas Juvenis do Velho Chico” e está disponível para aquisição no sítio de
KOINONIA

Pesquisa sobre Ações Juvenis para a Superação da Violência na Região do Submédio São Francisco

Relatório município de Belém do São Francisco
Por: Priscila Mellin*
Aluna de Ciências Sociais da UFRJ e voluntária no Programa TRD de KOINONIA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

Para uma compreensão inicial do objeto da pesquisa, faz-se necessário um breve apanhado histórico acerca dos principais atores envolvidos na tentativa de construção de ações para a superação da violência, a saber: o Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco, que atua nos Estados da Bahia e Pernambuco, e por outro lado, a atuação de Koinonia - Presença Ecumênica de Serviço - como membro desta parceria.
A construção do Pólo Sindical é fruto de um processo histórico de enfrentamento entre iniciativas governamentais, neste caso caracterizada pela construção da barragem de Itaparica, e as populações locais, direta e imediatamente prejudicadas por tais empreendimentos. O Pólo Sindical surge como uma alternativa de atuação dos trabalhadores rurais frente à espoliação e expulsão a que estavam sendo submetidos, mais especificamente com a construção da Barragem UHE Luiz Gonzaga, conhecida como Itaparica.
A importância do estudo sobre a atuação do Pólo Sindical na região consiste no mecanismo de construção de uma ação coletiva popular, e seus desdobramentos, com o objetivo de resistência e reivindicação de direitos frente a ataques exógenos, que acabam por alterar as relações sociais previamente estabelecidas, no momento em que priva o trabalhador rural do seu meio de subsistência, que é a terra. Além da luta pelo reassentamento, os trabalhadores rurais organizados propõem uma nova forma de convivência com o semi-árido, que pressupõe a sustentabilidade através de processos que não atinjam nocivamente a saúde e o meio ambiente. Nesse contexto a discussão sobre desenvolvimento sustentável e agroecologia é retomada, a partir da possibilidade de produção de alimentos e de interação com o meio ambiente que seja coerente com o desenvolvimento humano.
Koinonia – Presença Ecumênica de Serviço – inscreve-se na luta dos camponeses nordestinos através de ações culturais e político-pedagógicas. A instituição compreende por ação cultural as intervenções participativas, que se dão como ações locais, com grupos sociais de referência ético-política, e de caráter pragmático (Iulianelli, 2007).1 Estas ações ocorrem a partir e com base nas práticas sociais e saberes locais da juventude rural sertaneja.
Nesse sentido, o objetivo da pesquisa feita em 2005 e que deu origem ao presente relatório - realizado através do trabalho de jovens pesquisadores que aplicaram questionários ao longo da região do Submédio São Francisco - consiste na tentativa de entendimento do que representa a violência nessa área; como ela é percebida; em que medida ela pode ser analisada por uma perspectiva de superação; e, por fim, como se dá concretamente as atividades realizadas por Koinonia/Pólo na região, no que se refere à possibilidade de alteração destas relações violentas.
Portanto, além de um exercício de autocrítica, é possível em certa medida compreender o funcionamento destas relações sociais a partir da percepção do grupo rural sertanejo entrevistado. Vale lembrar que a região do Submédio São Francisco é classificada como “Polígono da maconha”, o que se mostrou um dado que impulsionou as considerações sobre as representações da violência, na medida em que a inserção desse elemento tenha possivelmente promovido alterações nas relações sociais, representadas pelas relações produtores – não-produtores, usuários – não-usuários entre outras; bem como a relação dos aparatos estatais, em especial a força policial em relação aos segmentos envolvidos pela economia da maconha.

Informações sobre o município de Belém do São Francisco

Município do Estado de Pernambuco, tinha uma população total estimada em
20.208,00 de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2000). Sua Área é de 1.830,81 km²representando 1,86 %do Estado, 0,12 % da Região e 0,02 % de todo o território brasileiro. Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,67 segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2000). O povoado de Belém de São Francisco surgiu a partir da fazenda pertencente à Antônio de Sá Araújo, que, em 1830, se estabeleceu às margens do Rio São Francisco, em terras do município de Cabrobó. Entre 1839 e 1840, durante uma das chamadas Santas Missões, tendo à frente o padre Francisco Correia, foi lançada a pedra fundamental de uma capela consagrada à Nossa Senhora do Patrocínio. Em 1902 a povoação foi elevada à categoria de vila.
O município de Belém de São Francisco foi criado em 11 de setembro de 1928, desmembrando-se do território de Cabrobó. No ano de 1919, a cidade foi destruída por uma grande enchente, quando apenas a Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, padroeira da cidade, ficou de pé. O município precisou, então, mudar-se para uma parte mais acima das margens do rio.
As principais atividades econômicas são a produção de cebola, tomate e a parte de fruticultura irrigada que é dividida em duas partes, a primeira a parte dos assentamentos oriundos da construção da barragem de Itaparica e a segunda de iniciativas privadas. Outras atividades que apresentam crescimento é a caprino-ovinocultura, a apicultura e a piscicultura, que contam com a formação de algumas associações.2.

METODOLOGIA DA PESQUISA:

Durante o ano de 2005, foram selecionados jovens sertanejos para a atuação como pesquisadores sociais, de acordo com os seguintes critérios: terem concluído o ensino médio, já terem participado de atividades juvenis desenvolvidas por Koinonia/Pólo na região do Submédio São Francisco e que já tivessem conhecimento crítico da região do Submédio São Francisco. Como objetos de análise foram escolhidos sete municípios da região do Submédio São Francisco, de acordo principalmente com os seguintes critérios: alto índice de desigualdade social, baixos índices sócio-econômicos, existência do plantio da maconha e áreas onde há articulação do Coletivo de Jovens - grupo vinculado ao Pólo de Trabalhadores Rurais do SMSF.
O questionário, como principal instrumento de pesquisa, consiste num misto de perguntas fechadas, semi-abertas (com possibilidades de escolhas pré-determinadas) e abertas (respostas espontâneas). Este é separado em 3 segmentos, a saber: Indicador de percepção da violência, indicador de percepção da superação da violência e indicador de percepção de efeito das ações Koinonia/Pólo com a juventude para a superação da violência.
Para fins metodológicos, as perguntas que constam no questionário podem ser categorizadas a partir de três conceitos: critério cognitivo, o qual refere-se ao processo de percepção, voltado para o processo de conhecimento e apreensão, que exige valoração de eventos internos ao indivíduo para que este possa construir e reconhecer suas percepções; o critério valorativo, que por sua vez refere-se a padrões culturais compartilhados e pode ser avaliado através da comparação entre um objeto e outro e está em consonância sobre o que é verdadeiro e correto para determinada pessoa; e o critério atitudinal ou de posicionamento, que refere-se à posição pessoal ou participação do entrevistado acerca de questões relacionadas com a percepção da violência e perspectivas para a superação desta.

APRECIAÇÃO DOS RESULTADOS

1. PERFIL DOS ENTREVISTADOS:
1.1. INFORMAÇÕES GERAIS:
A pesquisa realizou-se no município de Belém de São Francisco (PE), com um total de 100 pessoas entrevistadas. Destas, 53 são homens e 46 são mulheres. 44% dos entrevistados têm idade entre 15 e 19 anos.

DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DE JOVENS NA PESQUISA DO MUNICÍPIO DE BELÉM DE SÃO FRANCISCO SEGUNDO ESTRATOS DE SEXO E IDADE –
TABELA 1

 

Frequency

%

Sexo

Masculino

53

53%

Feminino

46

46%

Inválidos

1

1%

Total

100

100%

Faixa Etária

  

15-19anos

44

44%

20-24 anos

25

25%

25-29 anos

13

13%

30-34 anos

5

5%

40-44 anos

4

4%

35-39 anos

2

2%

45-49 anos

2

2%

50-54 anos

2

2%

Acima de 54 anos

2

2%

Não respondeu

1

1%

Total

100

100%

Fonte: KOINONIA/Pólo sobre as ações juvenis para a superação da violência na região do Submédio São Francisco, 2005.

1.2. CONDIÇÕES DE VIDA E RENDA:
Com relação aos números referentes à renda familiar, a pesquisa mostra que 31% dos entrevistados revelam receber um total por mês de até R$ 260,00 - correspondente ao salário mínimo do período. 26% revelam ganhar mensalmente um valor correspondente entre 1 e 2 salários mínimos. Apenas 4% dos respondentes afirmam ter uma renda mensal acima de 10 salários mínimos.
Considerando a renda pessoal, o número mais expressivo dos respondentes, 38%, recebem entre 0 e 1 salário mínimo por mês. 4% têm renda entre 1 e 2 salários mínimos. Vale lembrar que o salário mínimo correspondente no período (2005) era de R$ 260,00. Esse número de eleva somente na faixa entre 3 e 4 salários mínimos, correspondente a 5% dos entrevistados.

DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DE JOVENS NA PESQUISA DO MUNICÍPIO DE BELÉM DE SÃO FRANCISCO SEGUNDO ESTRATOS DE RENDA
TABELA 2

 

Frequency

%

Renda Familiar

0,50 - 1SM (R$ 130,00 - R$ 260,00)

26

26%

1,5 - 2SM (R$ 390,00 - R$ 520,00)

17

17%

2 - 3 SM (R$ 520,00 - R$ 780,00)

12

12%

1 - 1,5SM (R$ 260,00 - R$390,00)

9

9%

Nenhuma renda declarada

7

7%

0 - 0,5SM (R$0,00 - R$ 130,00)

5

5%

4 - 5SM (R$1040,00 - R$1300,00).

5

5%

3 - 4SM (R$780,00 - R$1040,00)

4

4%

Acima de 10SM (R$2600,00)

4

4%

Não sabe

8

3%

5 - 10SM (R$1300,00 - R$2600,00)

2

2%

Não respondeu

1

1%

Total

100

100%

Renda Pessoal

 

Nenhuma renda declarada

43

43%

0 - 0,50SM (R$0,00 - R$130,00)

28

28%

0,50 - 1SM (R$ 130,00 - R$ 260,00)

10

10%

3 - 4SM (R$780,00 - R$1040,00)

5

5%

Não respondeu

3

3%

1 - 1,5 SM (R$260,00 - R$390,00)

2

2%

1,5 - 2SM (R$ 390,00 - R$ 520,00)

2

2%

5 - 10SM (R$1300,00 - R$2600,00)

2

2%

Acima de 10SM (R$2600,00)

2

2%

Não sabe

1

1%

2 - 3SM (R$520,00 - R$780,00)

1

1%

4 - 5SM (R$1040,00 - R$1300,00).

1

1%

Total

100

100%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

1.3. CONDIÇÃO HABITACIONAL E FAMILIAR:
A maioria dos respondentes, 77%, vive em domicílios que têm entre 6 e 15 moradores. Apesar do número elevado de moradores por domicílio, 78% dos entrevistados afirmam ter até 2 pessoas recebendo algum tipo de renda por casa. A partir do total de 100 entrevistados, 24 pessoas afirmam serem chefes de família. Considerando-se a renda destes por mês, os números revelam que 16% dos chefes de família recebem entre 0 e 1 salário mínimo por mês; 7% dos chefes de família ganham entre 1 e 2 salários mínimos e apenas 1% ganha entre 5 e 10 salários mínimos. Uma proporção considerável, 45% dos respondentes, não declarou nenhuma renda ou afirmou não saber o valor.
1.4. ESCOLARIZAÇÃO:
A maioria dos entrevistados, 95%, é alfabetizada. No entanto, 7% não concluíram nenhum grau; 21% têm até a oitava série do ensino fundamental; 34% estudaram até o terceiro ano do segundo grau; e 5% têm o segundo grau completo. Com referência ao ensino superior, 8% conseguiram completá-lo e 18% estão entre os que não completaram e os que o estavam cursando durante o período da pesquisa. 7% dos entrevistados têm pós-graduação.
1.5. RAÇA E RELIGIÃO:
68% dos entrevistados afirmaram-se como não-brancos. Aqueles que se consideraram de cor/raça preta ou negra somam 12% dos respondentes. 41 pessoas afirmaram-se com algum grau de morenidade. Ao que concerne à crença religiosa, a maioria dos entrevistados, 92%, afirmam-se católicos. A religião batista e o candomblé somam apenas 3% dos respondentes, enquanto 5% afirmam não ter religião. Entre os religiosos, 75% afirmam-se praticantes.

DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DE JOVENS NA PESQUISA
DO MUNICÍPIO DE BELÉM DE SÃO FRANCISCO SEGUNDO
ESTRATOS DE COR E RELIGIÃO – TABELA 3

 

Frequency

%

Cor/Raça

  

Branca

32

32%

Morena mais clara

20

20%

Mulata (o)

18

18%

Ruivo

11

11%

Preta

8

8%

Negra

4

4%

Amarela

3

3%

Parda

1

1%

Moreno (a)

1

1%

Inválidos

1

1%

Morena mais escura

1

1%

Total

100

100%

 

Frequency

%

Religião

  

Católica

92

92%

Não tem religião

5

5%

Batista

2

2%

Candomblé

1

1%

Total

100

100%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

1.6. RELAÇÃO COM AS ATIVIDADES JUVENIS CONDUZIDAS POR KOINONIA/PÓLO:
42% dos entrevistados disseram ter participado de alguma das atividades realizadas por Koinonia/Pólo, enquanto 40% disseram nunca terem participado. Dentre os participantes, 24% disseram ter participado de todas as atividades. As atividades mais mencionadas pelos respondentes foram o 2° Festival Cultural Fome Zero (23%) e o 1° Festival Cultual Velho Chico (11%).
73% dos entrevistados acreditam que as ações desenvolvidas por Koinonia/Pólo contribuem para a superação da violência com a juventude rural, o que nos leva a crer que mesmo aqueles que nunca participaram de ações ainda assim acreditam que estas iniciativas têm como potencialidade a superação da violência.
1.7. CONSTATAÇÃO CONCLUSIVA:
O perfil médio dos entrevistados é composto principalmente por jovens de 15 a 19 anos, que moram em residências com 6 a 15 moradores. Vivem em famílias cuja renda gira em torno de até 1 salário mínimo, o que se repete com a renda pessoal. São alfabetizados, onde a maioria estudou entre o ensino fundamental e médio. A maioria identifica-se como não-brancos e definem-se como morenos ou negros. Afirmam-se católicos e praticantes. 40% são praticantes das ações promovidas por Koinonia/Pólo. 

2. SOBRE A ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES:
2.1. PERCEPÇÃO DA VIOLÊNCIA:
2.1.1. Aspecto Cognitivo:
Quase a totalidade dos entrevistados, 97%, afirmam já terem ouvido falar sobre acontecimentos violentos em seu município. Foi pedido aos respondentes que eles classificassem os eventos violentos conforme a freqüência com que estes ocorrem, através de definições como “ocorre muito”, “ocorre às vezes, e “não ocorre”. O resultado foi o seguinte: Assalto fora de casa ficou como evento violento mais freqüente na região, com 62%. Agressão física em casa liderou o evento que ocorre de forma esporádica, segundo a percepção de violência dos entrevistados,(56%), seguido de assalto a casa,(55%) e, por fim, o trabalho forçado na roça de maconha aparece como evento onde não houve ocorrência (32%). É interessante notar que a incidência dos atos violentos e estes próprios no município de Belém de São Francisco seguem o padrão do que foi constatado em toda a região do Submédio São Francisco. O que parece se diferenciar no requisito freqüência é o estupro de mulheres adultas, roubo ou furto de veículos e violência contra homossexuais, que aparecem com mais freqüência na região específica do município de Belém de São Francisco.

TRÊS PRINCIPAIS EVENTOS CONFORME A VIOLÊNCIA –
 TABELA 4


Ocorre muito

Frequency

%

Assalto fora de casa

62

62%

Agressão física fora de casa

45

45%

Homicídio/Assassinato

44

44%

Ocorre ás vezes

  

Agressão física em casa

56

56%

Assalto a casa

55

55%

Estupro de mulheres adultas

53

53%

Não ocorre

  

Trabalho forçado na roça de maconha

32

32%

Roubo/Furto de veículos/Violência contra homossexuais

30

30%

Trabalho forçado na roça/Expulsão de terra

29

29%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Foi requisitado que o entrevistado indicasse, por meio das valorações de 0 a 10, como ele classificaria o índice de percepção da violência em seu município. Nesse sentido, 20% dos entrevistados indicaram um índice médio para o município de Belém de São Francisco, ou seja, nota 5. 47% dos respondentes deram nota maior que 5, enquanto 31% deram nota abaixo de 5.

2.1.2. Aspecto Valorativo:
Foi apresentada uma lista de possíveis características que pudessem ter alguma relação com o desencadeamento de ações violentas. A maioria dos entrevistados, 89%, elegeu o alcoolismo ou embriaguez como principal influente nos índices de violência do município. Parece ser um problema grave, uma vez que nenhum respondente relacionou-o com a indicação “Nenhuma influência”. Em segundo lugar, com 69%, os entrevistados indicaram a perversidade ou crueldade, seguido da ganância ou vontade de ter dinheiro, com 67%. A opção Pobreza/Necessidade Econômica tem a maior indicação de “Pouca influência”.
É interessante notar que novamente esse quadro de percepção da violência assemelha-se com o quadro mais geral referente à região do Submédio São Francisco, no que se refere ao primeiro e segundo lugar. A principal diferença nesse sentido refere-se à posse de armas, que ficou em segundo lugar no quadro geral do Submédio, e que na região do município de Belém do São Francisco não aparece como um motivador à violência que mereça destaque.
Foi solicitado aos entrevistados que estes indicassem espontaneamente de quem seria a culpa pela ocorrência de ações violentas. 28% dos entrevistados sinalizaram a ineficiência do poder público, ao localizar a culpa no governo. Em seguida, com 24%, os respondentes indicaram a polícia como agente propagadora da violência. Os políticos ficaram com uma porcentagem de 18% do total. É interessante notar que as três principais indicações como responsáveis por ações violentas são estruturas do aparato governamental, que somam 70% do total, e não indivíduos isolados.

INDICAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DAS AÇÕES VIOLENTAS
TABELA 5

Responsabilidade das ações violentas...

N=100

Freq.%

Do governo

41

28,08%

Da polícia

36

24,65&

Dos políticos

27

18,49%

De todas as pessoas em geral

14

9,58%

Da própria pessoa que sofreu a violência

10

6,84%

Do agressor que cometeu a violência

9

6,16%

Falta de emprego

3

2,05%

Não sabe de quem é a culpa

2

1,36%

Família

1

0,68%

Das pessoas

1

0,68%

Drogas

1

0,68%

Inválido

1

0,68%

Total

146

100,00%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Foi pedido também que, espontaneamente, os entrevistados indicassem os casos mais graves relativos à violência cometida por jovens. Grande parte das respostas, 52%, estão inseridas nas categorias de “não lembra” (23%), “não respondeu” (25%) ou “não sabe” (4%). Esse índice pode ser relacionado a duas interpretações: ou os entrevistados não quiseram revelar os casos mais graves, ou estes casos não acontecem com freqüência regular para que não fossem lembrados. No entanto esta hipótese mostra-se contraditória na medida em que 97% dos entrevistados afirmaram que há acontecimentos violentos na região.
Entre as demais indicações de atos violentos, pelo menos 31% dos índices são referentes à violência contra indivíduos, como: homicídio, assalto, estupro, brigas e tentativa de estupro.
Na pergunta referente aos casos mais graves que vitimizaram jovens rurais, a maioria dos entrevistados, aproximadamente 78%, novamente estão entre as categorias do “não sei” (6,8%), “não lembro” (41,3%) e “não respondeu” (29,8%).

LEMBRANÇAS DE AÇÕES VIOLENTAS

COMETIDAS POR JOVENS RURAIS

TABELA 6

Fatos lembrados

Freq.

%

Não respondeu

25

25%

Não lembra

23

23%

Homicídio

12

12%

Inválidos

8

8%

Prisão arbitrária

6

6%

Briga entre famílias

5

5%

Estupro

5

5%

Não sabe

4

4%

Briga entre jovens

3

3%

Assalto

3

3%

Alcoolismo

2

2%

Tentativa de estupro

2

2%

Briga entre pai e filho

1

1%

Drogas

1

1%

LEMBRANÇAS DE AÇÕES VIOLENTAS

SOFRIDAS POR JOVENS RURAIS

TABELA 7

Fatos lembrados

Freq.

%

Não lembra

36

41,37%

Não respondeu

26

29,88%

Não sabe

6

6,89%

Outros

5

5,74%

Esfaquiaram um rapaz

3

3,44%

Briga entre jovens

2

2,29%

Briga entre famílias

2

2,29%

Assalto

2

2,29%

Drogas

2

2,29%

Inválido

1

1,14%

Homicídio

1

1,14%

Alcoolismo

1

1,14%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

2.1.3. Aspecto das Atitudes:
Foram propostas diversas frases sobre o que poderia significar violência para o entrevistado e foi pedido que este se posicionasse de acordo com as afirmações feitas. Na tabela referente à disposição atitudinal diante do que significa violência e quais seus meios possíveis de controle social, há a ocorrência de problemas sociais tais como falta de escola, fome e falta de reforma agrária como opções para a definição de violência. A tabela mostra que tais problemas são percebidos como representantes fundamentais do que representa a violência, totalizando maiores percentuais de concordância na percepção dos jovens rurais, com valores respectivos a 69%, 65% e 62%.
Fica notório também que a juventude rural não considera a violência um acontecimento normal, totalizando o maior percentual de discordância - inteiramente e em parte - de 51%. A seca no sertão e o trabalho infantil tendem a não ser percebidos como violência, ou se são, o são majoritariamente apenas em parte.
Em relação ao posicionamento de como a agressão deve ser controlada, 82% dos entrevistados concordam, inteiramente e em parte, que a sociedade é responsável pelo controle da violência, através de meios pacíficos. Em contraposição, 74% dos entrevistados concordam, inteiramente e em parte que o indivíduo potencialmente agente de um comportamento agressivo deve ser responsável pelo controle de seus próprios impulsos violentos.

INDICAÇÃO DE DISPOSIÇÃO ATITUDINAL E CONTROLE SOCIAL DA VIOLÊNCIA
TABELA 8


Violência é...

Concordo

Discordo

 

Inteiramente %

Em parte %

Inteiramente %

Em parte %

Seca no sertão

20%

37%

17%

24%

Falta de reforma agrária

24%

38%

17%

20%

Falta de escola

36%

33%

12%

16%

Fome

29%

36%

17%

16%

Trabalho infantil

26%

31%

18%

23%

Normal

12%

36%

27%

24%

Agressão que o agressor deve controlar

30%

44%

12%

11%

Agressão que deve ter uma agressão maior como resposta

16%

20%

40%

19%

Agressão que a sociedade deve controlar por meios pacíficos

54%

28%

6%

11%

Agressão que só a Polícia e o Judiciário devem controlar

20%

23%

28%

26%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Parece que o modelo de controle social da violência implícito nas indicações atitudinais dos entrevistados é aquele que congrega uma espécie de conscientização pessoal e societária da necessidade de construção de relações não-violentas, que implica um nível particular, ou pessoal, onde o potencial agressor ou promotor de ações violentas deve repensar suas ações, através de um mecanismo individual de controle da própria agressividade, impulsionado por meio de valores pacíficos, e, por outro lado, um nível societário ou socializante, no qual toda a sociedade deve ser responsável pelo controle das ações violentas, por meio da repressão individual a sentimentos que levem à violência, e também por meio da repressão e reprovação social de indivíduos agentes de atos violentos.
Essa hipótese pode ser comprovada através dos números referentes aos índices de reprovação da violência como mecanismo de controle social, que somam 59% das opiniões. No entanto essa co-responsabilidade da sociedade civil pelo controle da violência deve ser complementada pelos mecanismos policiais e judiciais do Estado. Aqui, percebe-se que tanto o Estado quanto as pessoas isoladas ou em grupo, têm funções primordiais para o controle da violência, mas essa “divisão” de responsabilidades ora recai sobre a responsabilidade individual, ora sobre os mecanismos de repressão do Estado. Como base desta análise, pode ser apresentado o alto índice de concordância acerca da responsabilidade de controle da violência pela sociedade, 82%, e pelas indicações acerca da opção “Agressão que só a Polícia e o Judiciário devem controlar”, que somam entre discordância em parte e inteiramente, 54%. Além disso, o Estado não pode ser visto como principal responsável pelo controle da violência, se 70% dos respondentes afirmam ser elementos representativos do Estado (Polícia, Políticos, Judiciário), os principais indicados pela ocorrência da violência. (Vide tabela 5).
2.2. indicador de percepção de Superação da Violência:
2.2.1. Aspecto Cognitivo:
Neste aspecto, 93% dos entrevistados indicaram resposta afirmativa para a pergunta sobre a possibilidade de diminuição da violência na região do Submédio São Francisco. Em relação ao conhecimento de ações efetivas com o objetivo de superação da violência; 54% sinalizaram que tais ações existem em seu município. Dentre essas pessoas, foi pedido que indicassem quais ações lhe ocorreram ao lembrar três exemplos de tais ações. Nesse sentido, a atividade “palestras com jovens” foi a atividade mais indicada, com 17%. Pode-se concluir, portanto, que atividades com cunho educacional são de grande aceitação e percepção por parte dos entrevistados como elemento potencialmente relevante para a superação da violência.

LEMBRANÇAS DE AÇÕES PARA A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

TABELA 9

Ações

Frequency

%

Outros

9

19,14%

Palestras com jovens

8

17,02%

Contratação de guardas municipais

6

12,76%

Reforço do policiamento

5

10,63%

Padre promoveu a paz em briga de família

4

8,51%

Caminhada pela Paz

3

6,38%

Padre pede pela Paz em seu sermão

3

6,38%

Inválidos

3

6,38%

Áreas de lazer com a juventude

1

2,12%

Não lembra

1

2,12%

Campanha da Fraternidade

1

2,12%

Bolsa Alimentação

1

2,12%

Combate as drogas

1

2,12%

Cultura de Paz, realizada pelas Igrejas

1

2,12%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

As necessidades de reforço do policiamento e de contratação de guardas municipais somam 22%, o que mostra ser uma forte demanda da área. As ações clericais fazem-se presentes dentre aquelas indicadas como superantes em potencial da violência, na medida em que 8% dos respondentes apontam para as ações do Padre Roberto, que promove a paz em brigas familiares, bem como a ação do sermão do Padre durante a missa, através de seu apelo pela paz (6%). As ações religiosas ou com membros religiosos na organização dos eventos somam 25,51%. Dos pesquisados, 2% indicam ainda a necessidade de promoção de áreas de lazer para a juventude. Apesar da baixa incidência, a opção “Combate às Drogas” foi indicada (2%). Vale lembrar que a região ficou conhecida como “Polígono da Maconha” na medida em que houve um crescimento da plantação de maconha na região, e ao que tudo indica, o consumo é voltado para outras regiões, e não para a região produtora.
Em relação às ações promovidas pelas forças policiais, é interessante notar que 92% dos entrevistados indicam que a arbitrariedade policial gera o aumento da violência. 85% indicam que ocorrem atos de arbitrariedade policial em suas cidades. Esses números mostram claramente que há arbitrariedade policial, geradora de situações violentas, mas que ainda assim os entrevistados indicam a necessidade da presença policial como medida para a superação da violência, desde que, como 93% dos entrevistados indicaram, policiais sejam treinados para agir respeitando os direitos humanos.

ATUAÇÃO DE POLICIAIS RESPEITANDO OS DIREITOS HUMANOS
COMO AÇÃO PARA SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
TABELA 10

 

Frequency

%

Sim

93

93%

Inválido

3

3%

Não

2

2%

Não respondeu

2

2%

Total

100

100%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

2.2.2.Aspecto Valorativo
Por meio de uma pergunta aberta, referente à identificação de qual setor da sociedade deve partir iniciativas para a promoção de ações para a superação da violência, 71% dos respondentes relacionam a responsabilidade de gestão para tais ações ao poder público, ou pelo menos a alguma esfera deste, tais como: Governo, Políticos, Polícia, Juiz, Conselho Tutelar, Poder Judiciário, Autoridades Civis. Além dessas classificações que identificam o poder público como principal promotor em potencial de ações para a superação da violência; 8,8% dos entrevistados responsabilizaram a sociedade em geral, na medida em que afirmam que tais ações devem partir de “Todas as pessoas em geral”.
Um número menos expressivo, de aproximadamente 11%, localiza primordialmente indivíduos como possíveis empreendedores de ações para a superação da violência; são eles os que sofrem a violência, ou aqueles que a cometem.

    DE QUEM DEVE PARTIR A INICIATICA DE AÇÕES PARA

     A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA:

TABELA 11

 

Frequency

%

Governo

43

29,25%

Políticos

29

19,72%

Polícia

28

19,04%

Todas as pessoas em geral

13

8,84%

Da própria pessoa que sofre a violência

12

8,16%

Não sabe

5

3,40%

Do agressor que cometeu a violência

4

2,72%

Juiz

4

2,72%

Inválido

2

1,36%

Não respondeu

2

1,36%

Família

1

0,68%

Conselho Tutelar

1

0,68%

Emprego

1

0,68%

Poder Judiciário

1

0,68%

Autoridades Civis

1

0,68%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Os entrevistados indicaram quais ações eles acham mais favoráveis para a superação da violência. Violência mediada pelo uso de armas pode ser hipoteticamente uma ocorrência recorrente na região, uma vez que a campanha pelo desarmamento lidera como ação potencialmente mais bem-sucedida para a superação da violência, com 23% das indicações.
Ações educativas e de lazer parecem ser uma saída favorável para a situação da violência na percepção dos entrevistados, já que foram diversamente citadas, totalizando aproximadamente 44%, ações como: educação em direitos humanos, debates nas escolas, esportes, palestras sobre a violência, entre outras.
Aproximadamente 12% indicam que a necessidade de redução do desemprego, geração de trabalho e renda como ações que contribuem para a superação da violência.
2.2.3. Aspecto Atitudinal:
Em determinado momento; o pesquisador levantou algumas ações como hipóteses para a superação da violência. Estas hipóteses comprovaram altos índices de aplicabilidade na medida em que obtiveram (todas elas individualmente), índices de concordância – inteira e em parte - acima de 84%. Estas ações indicadas são; a saber: Campanha pelo Desarmamento, Denúncias Publicas de Violação de Direitos, Campanhas Educacionais em Direitos Humanos, Ações Educacionais com a juventude e Ações de Laser; com ênfase, no percentual de concordância nas três últimas ações.

AÇÕES PARA A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA:

TABELA 12

Ações

Concordo

Discordo

 

Inteiramente %

Em parte %

Inteiramente %

Em parte %

Campanha Desarmamento

71%

21%

2%

4%

Campanha Educação em Direitos Humanos

78%

18%

1%

1%

Ações de Lazer

85%

12%

0

2%

Ações educacionais com a juventude

80%

16%

0

2%

Denúncias Públicas de violação de direitos

48%

36%

8%

6%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Vale lembrar que as ações utilizadas como hipóteses, sendo submetidas à opinião dos entrevistados, referem-se principalmente aos campos educacional e de direitos humanos. Esse direcionamento vai ao encontro das ações já realizadas pela parceira Koinonia-Pólo, que se concentram na área pedagógica e de direitos, bem como os processos para a humanização nas relações de trabalho e a construção ou alastramento de uma perspectiva cidadã, de organização coletiva pelo reconhecimento e reinvidicação de direitos.
A tabela abaixo evidencia que a opção “Valorização dos sentimentos religiosos”; prioritariamente, e “Educação para a Paz”, são as referências com maiores índices de aprovação em relação à inserção e direcionamento contextual que teriam mais possibilidades para a superação da violência, segundo segmentos da juventude rural entrevistados nessa pesquisa. Daí conclui-se que, na visão desse grupo de opinião, as políticas públicas mais eficientes seriam aquelas baseadas em sentimentos humanitários. Especulando-se tais sentimentos como baseados na solidariedade, amor ao próximo entre outros. Pode-se notar uma demanda referente à humanização das políticas publicas, bem como uma percepção afirmativa em relação a uma possível aproximação entre Estado e população, para uma efetiva ação para superação da violência.

ESCALA DE CONTRIBUIÇÃO DE AÇÕES COLETIVAS PARA A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

TABELA 13

Atitudes Coletivas

Contribuem para a superação

De nada adiantam

Estimulam a violência

Atos públicos pacíficos (passeatas, ocupações...)

33%

35%

25%

Políticas Públicas Municipais (educação/saúde...)

66%

24%

4%

Negociação de Conflitos

62%

20%

11%

Educação para a paz

81%

10%

0

Valorização de sentimentos religiosos

89%

0

0

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Essas respostas parecem mostrar que, ou o Estado aproxima-se da sociedade civil - como instituição ou através de políticas de ação para a superação da violência- ou as pessoas crêem que a superação da violência seria construída fora das ações estatais, por intermédio das pessoas, ao inculcarem em seus comportamentos uma prática originada de valores humanitário-religiosos. Essa segunda opção é a que parece ser mais acertada, embora construída por um processo individualizante baseado na construção individual da valorização de determinados sentimentos, e num segundo momento, socialização ou coletivização desses sentimentos com a comunidade imediata. Esse processo pode revelar, em outro sentido, uma forma de autonomia da população, uma vez que é um mecanismo construído por ela e que não necessariamente passe pela órbita estatal.
Esta perspectiva parece se confirmar através do índice registrado com referência a opção “Atos públicos pacíficos”, que foi de 33% de aprovação, o mais baixo das atividades coletivas disponibilizadas aos entrevistados. Não só 35% dos respondentes avaliaram que nada adiantaria para a superação da violência, como 25% atestam que esses mecanismos de participação coletiva contribuiriam para a estimulação da violência. Daí pode-se concluir que há um descrédito em relação à eficiência que uma ação popular pode atingir/ influenciar nos níveis do aparato governamental, ou simplesmente nos centro decisórios públicos.
Para confirmar essa hipótese, pode-se destacar que 51% dos entrevistados disseram discordar – inteiramente e em parte - da capacidade de atitudes coletivas pacíficas como passeatas, ocupações de terra, manifestações públicas no que se refere a alternativas para a construção da superação da violência. Ou seja, parte expressiva dos entrevistados, composta de jovens participantes ou que já participaram de algum tipo de ação coletiva, posicionou-se contrariamente à mobilização pacífica de pessoas como ação eficiente para a superação da violência.
Por outro lado, a alternativa “Negociação de Conflitos” (62%) e “Políticas Públicas Municipais”, tais como áreas de saúde e educação (66%), tiveram índices expressivos, ainda que não tanto quanto os valores religiosos. É interessante notar que ambas as opções pressupõem a intermediação de algum setor público, entendendo “Negociação de Conflitos” como situações levadas a órgãos legislativos ou judiciais.

2.3. INDICADOR DE PERCEPÇÃO DE EFEITO DAS AÇÕES KOINONIA/PÓLO COM A JUVENTUDE PARA A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
2.3.1.ASPECTO COGNITIVO:
Neste aspecto, 97% dos entrevistados acreditam que a atuação de organismos da sociedade civil no município pode cooperar para a diminuição da violência na região. 73% acreditam que ações desenvolvidas por Koinonia com os jovens rurais cumprem esse papel social para a superação da violência.  Quase metade dos respondentes, 49%, afirmam conhecer as ações promovidas por Koinonia/Pólo. As principais ações lembradas pelos respondentes foram o 2° Festival Cultural Fome Zero (23%) e o 1° Festival Cultural Velho Chico (13%).

AÇÕES DE KOINONIA/PÓLO LEMBRADAS PELOS RESPONDENTES
TABELA 14

Ações

Frequency

%

2 Festival Cultural Fome Zero

30

23,62%

Não sabe

17

13,38%

1 Festival Cultural Velho Chico

14

11,02%

2 Gincana Cultural Luta pela Paz

12

9,44%

1 Olimpíada Juventude Rural SMF

9

7,08%

Curso Agentes Culturais (2 turma)

7

5,51%

1 Encontro de Jovens Agricultores SMF

6

4,72%

Curso Agentes Culturais (1 turma)

6

4,72%

Acompanhamento Coletivo Jovens Pólo

5

3,93%

1 Gincana Cultural Identidade Jovem Rural

3

2,36%

Encontro GT Educadores Jovens Rurais

3

2,36%

1 encontro Jovens Rurais SMSF

2

1,57%

Inválidos

2

1,57%

Curso História MSTR

2

1,57%

Encontro Intercâmbio Jovens Rurais SMSF

2

1,57%

Não lembra das ações

1

0,78%

Debates

1

0,78%

Não respondeu

1

0,78%

Marcha das Margaridas

1

0,78%

Seminário Políticos Sindical Rural da Juventude

1

0,78%

Seminário Educação no Campo

1

0,78%

Seminário Direitos dos Trabalhadores Rurais SMSF

1

0,78%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

2.3.2.ASPECTO VALORATIVO:
Em relação às medidas indicadas pelos respondentes como maiores propensoras de possibilidades para a superação da violência, as três atividades que estão entre as mais mencionadas são: 2º Festival Cultural Fome Zero (22%), 2ª Gincana Cultural Luta pela Paz (17%), e o 1º Festival Cultural Velho Chico, com 10% das indicações.
Dos entrevistados que já participaram de alguma ação promovida por Koinonia/Pólo, foi perguntado se os participantes gostaram de participar das atividades, quais foram as melhores, e por qual motivo eles gostaram dessas atividades que intitularam como mais prazerosas. Destes, 54% dos entrevistados afirmaram terem gostado de todas as atividades. Quando indagados pela motivação desta valorização, aproximadamente 24% dos participantes indicaram que o principal motivo foi porque fizeram novas amizades, ou porque se divertiram (24%). Segue as tabelas 11 e 12 com maiores detalhes sobre tais atividades e as motivações dos participantes.

  ATIVIDADES QUE OS PARTICIPANTES MAIS GOSTARAM

TABELA 15

Atividades

Frequency

%

De todas

21

54%

Resgate da História de Itaparica

6

15%

Gincana

4

10%

Palestras sobre drogas

3

7%

Não respondeu

3

7%

Inválido

2

5%

PRINCIPAIS RAZÕES PORQUE GOSTARAM DAS ATIVIDADES

TABELA 16

Razões

Frequency

%

Porque fez novas amizades

15

24%

Porque se divertiu

15

24%

Porque pode conhecer mais sobre a juventude SMF

8

12%

Porque aprendeu sobre os direitos dos jovens

7

11%

Porque aprendeu muitas coisas

5

8%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

As ações para a superação da violência devem ser pautadas, segundo os entrevistados, prioritariamente em ações divertidas, pacíficas e não-agressivas, como indicam 25% dos respondentes. Aquelas atividades que têm como objetivo o favorecimento da criação de organizações juvenis e que possibilitam a construção de um diálogo entre sindicalistas rurais e jovens são igualmente de relevância considerável para os jovens rurais, com indicações de 13% dos respondentes para cada atividade. Os entrevistados fazem ainda alusão à capacidade de reflexão crítica, produzida pelas atividades de Koinonia/pólo num âmbito mais geral, bem como à reflexão sobre as razões e efeitos da violência como elementos positivos de resultantes das ações de Koinonia, somando 24% das indicações.
2.3.3.ASPECTO ATITUDINAL:
42% dos entrevistados disseram já terem participado de ações promovidas por Koinonia/Pólo no município de Belém do São Francisco. Dentre estes participantes, 32% afirmaram envolver-se em todas as atividades. As outras ações mais indicadas foram: Gincana (11%), Resgate da História de Itaparica (9%) e as Olimpíadas (9%).

ATIVIDADES PARTICIPATIVAS

TABELA 17

Modalidades

Frequency

%

De todas

24

32%

Inválido

14

19%

Gincana

8

11%

Resgate da História de Itaparica

7

9%

Olimpíadas

7

9%

Palestras sobre drogas

4

5%

Festival Fome Zero

3

4%

Diga não as drogas

3

4%

Seminário de Agricultura Orgânica

3

4%

Não sabe

1

1%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Quando perguntadas como se deram suas participações nas ações promovidas por Koinonia/Pólo, aproximadamente 48% dos respondentes indicaram terem sido participantes de uma equipe de apresentação cultural; 19% estiveram envolvidos como público participante/assistente; e 8% participaram como coordenadores das equipes dos municípios ou por meio de apresentações culturais individuais.

Foram feitas uma série de perguntas com o objetivo de, inicialmente, fazer com que os entrevistados admitissem se já tiveram comportamentos violentos. A pesquisa procurou descobrir quais eram estes comportamentos admitidos como violentos, e posteriormente, procurou-se analisar quais as influências que as ações promovidas por Koinonia/Pólo têm acerca do controle ou superação destes sentimentos ou comportamentos violentos.
Desse modo, foi perguntado aos entrevistados se eles já tiveram alguma atitude ou comportamento violento. 65% dos respondentes afirmaram que sim. Dentre estes, 51% afirmaram que suas atitudes violentas consistiam em agressões físicas. Em segundo lugar, 20% indicaram ter atitudes que levassem à agressão verbal.
Foram estimuladas uma série de atitudes consideradas como agressivas, por meio da leitura de uma lista de comportamentos, e foi pedido que os respondentes indicassem se costumavam ter tais atitudes ou não. Neste caso, a opção “Agressão verbal” foi indicada por 38% dos respondentes, enquanto “Agressão Física” ficou com 26% das indicações.
É interessante notar que na pergunta espontânea, a agressão física ficou em primeiro lugar, com 51% e na pergunta estimulada, sobre as mesmas questões, essa ordem alterou-se, ficando a agressão verbal em primeiro lugar.

PERGUNTA ESPONTÂNEA ACERCA

 COMPORTAMENTOS VIOLENTOS
                          TABELA 18

Comportamentos

Frequency

%

Agressão Física

20

51%

Agressão Verbal

8

20%

Não respondeu

6

15%

Não sabe

1

2,50%

Não lembra

1

2,50%

O álcool deixa agressivo

1

2,50%

Discussão

1

2,50%

Inválido

1

2,50%

PERGUNTA ESTIMULADA ACERCA

 COMPORTAMENTOS VIOLENTOS - TABELA 19

Comportamentos

Frequency

%

Agressão Verbal

83

38,42%

Agressão Física

57

26,38%

Intolerância com pessoas alcoolizadas

36

16,60%

Intolerância Religiosa

14

6,48%

Machismo

12

5,50%

Não respondeu

5

2,30%

Inválidos

3

1,38%

Racismo

3

1,38%

Assédio Sexual

2

0,90%

Não sabe

1

0,40%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Em relação à possibilidade de alteração dos comportamentos violentos pela influência na participação nas ações promovidas por Koinonia/pólo, 35% indicam que houve mudanças em seus comportamentos. Para os entrevistados, os principais sentimentos/comportamentos estimulados nas atividades foi o estímulo para não ter comportamento agressivo (30%), o respeito entre as relações de gênero (21%), a capacidade de diálogo (8%) e o respeito pelas pessoas de diferentes etnias (7%).
Foi apresentada uma lista de sentimentos morais que possivelmente sejam estimulados pelas ações de Koinonia/Pólo. Segundo as respostas dos entrevistados, os principais sentimentos desenvolvidos pelas ações com a juventude rural são: Amor ao próximo (22%), Solidariedade (21%), Auto-estima equilibrada (14%) e finalmente, Crença/Confiança no ser humano (12%).

COMPORTAMENTOS ESTIMULADOS POR KOINONIA/PÓLO

[PERGUNTA ESPONTÂNEA] - TABELA 20

Comportamentos

Frequency

%

Não ter comportamento agressivo

35

29,60%

Inválidos

25

21,18%

Respeito pelas pessoas do sexo diferente do seu

14

11,86%

Não sabe

10

8,47%

Capacidade de diálogo

10

8,47%

Respeito pelas pessoas de diferentes etnias que a sua

9

7,62%

Tolerância com as pessoas embriagadas

5

4,23%

Educação

4

3,38%

Não respondeu

4

3,38%

Amizade

1

0,84%

Convencimento dos amigos a não consumir álcool

1

0,84%

SENTIMENTOS MORAIS DESPERTADOS

[PERGUNTA ESTIMULADA] - TABELA 21

Sentimentos

Frequency

%

Amor ao Próximo

67

22,40%

Solidariedade

63

21,07%

Auto-estima equilibrada

44

14,71%

Crença/Confiança no ser humano

37

12,37%

Tolerância Religiosa

31

10,36%

Compaixão

27

9,03%

Inválido

24

8,02%

Não respondeu

5

1,67%

Respeito

1

0,33%

Companheirismo

1

0,33%

União

1

0,33%

Fonte: Koinonia/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência no Submédio São Francisco, 2005.

Além da valorização de sentimentos religiosos/humanitários para a construção da paz, as ações de Koinonia/Pólo mostram influências em relação ao incentivo à participação dos jovens nas ações sociais desenvolvidas em suas comunidades (67%), bem como o fortalecimento do entendimento do que significa a reivindicação de direitos (73%), a aproximação entre setores juvenis e o movimentos sindical rural (70%), o que contribui para a formação educacional e cívica de construção de uma juventude rural mais combativa, solidária e consciente de seus direitos e suas possibilidades.

* Aluna de Ciências Sociais da UFRJ e voluntária no Programa TRD de KOINONIA

1. IULIANELLI, Jorge Atílio Silva (org.). Águas juvenis no Velho Chico. Rio de Janeiro:Koinonia, 2007.

2. SEBRAE. www.pe.sebrae.com.br:8080/notitia/dowload/Belem_diagnostico.pdf