Boletim da Rede de Pesquisadores sobre Narconegócio e Campesinato
Produzido pelo Projeto Cultura e Desenvolvimento -- KOINONIA
Número 1

 

Nando Neves Vivemos um momento tormentoso quando a preocupação em torno de conflitos que envolvem elementos culturais é mais aguda. As generalizações não são boas companheiras. Terror não equivale a Islamismo e envolvimento com o narcotráfico não é o mesmo que ser agente do crime. No Submédio São Francisco se assiste, como em outras partes do País, à face violenta do agronarconegócio. O envolvimento nas pontas dessa atividade (produção e consumo) se constitui de momentos dolorosos e opressivos. Na produção se está submetido à exploração capitalista do agronegócio, e no consumo à compulsão capitalista. Os mais diretamente atingidos nesse processo são os jovens. Os mais ilesos são os narcocapilalistas.

Na região do Submédio São Francisco o narcoplantio é mais um ingrediente a desestimular a permanência de jovens com vistas a apoiar um projeto de desenvolvimento sustentável regional. As ações governamentais, por motivos variados, também levam a isso, haja vista em especial a contra-reforma agrária em Itaparica, maior investimento governamental no interior do Nordeste, a indenizar camponeses que tinham conquistado reassentamento irrigado, tirando-os das próprias terras.

O conjunto de artigos que circulam no boletim espera contribuir para o debate público em torno dos efeitos perversos do narcoagronegócio, e procura insistir na necessidade de políticas públicas, relativas à questão, que ultrapassem a exclusividade do tratamento repressivo, avancem para uma verdadeira Reforma Agrária e políticas afirmativas para a juventude. Uma análise das relações da juventude sertaneja com o narconegócio e duas entrevistas constituem um rico painel da violência que sofrem e da resistência que oferecem os jovens daquela área. Assim contamos contribuir para o debate nacional que afete a vida das pessoas envolvidas, em diferentes situações, com a narcoprodução e o narconegócio no País.