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MEIO AMBIENTE E RELIGIOSIDADE PROTESTANTE
Ano 2 - Nº 6
Janeiro de 2008
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Crítica
 
“Até ficarem embriagados de amor...”
Por: Carlos Cunha

“Irá chegar um novo dia, uma nova terra, um novo mar
e nesse dia os oprimidos numa só voz a liberdade irão cantar.”

(Canção de Vera Lucia Nascimento)

Natal... E ainda está nascendo. Ainda vai chegar.
É preciso ser expectante e não falar de um ridículo aniversário que serve para lembrar o que passou, aconteceu.
Basta de foguetórios e de comes-e-bebes, finalidades em si; quando acabam tudo acaba.
Quem se volta para festejar passados vira passado.
Sejamos eternos expectantes. Natal é utopia (não-lugar). Está sempre à frente. Natal nem se festeja, celebra-se. Utopia é celebrar, converter-nos a olhar o que está vindo.
O espoucar dos fogos e das garrafas que se abrem borbulhantes, ferventes de alegria é para esperar chegar o novo dia, prelúdio chopiniano de novos dias.
Natal é a utopia permanente. Não é “onde”, nem “para onde”.
Natal, a celebração dos expectantes é sempre “aonde”. Possui toda a carga inicial do in posse.
Quando alguém faz festa porque nasceu, sem saber, paradoxalmente ou inadvertidamente festeja o “está-para-morrer”. Alguém disse: “cada ano de vida nunca é mais, é sempre menos”.
Natal é mais, “celebrai com júbilo”, que é sempre mais. É a contradição, porque os que celebram o Natal, permanente utopia, hoje têm vinte, amanhã terão sessenta e depois... Saem do meio de nós, rito que repetiremos sempre. E aí? Acontece que nós não somos apenas nós, somos os outros: sejam filhos, sejam todos aqueles que são um conosco. Ao constrangimento de ficarmos sós fugimos pelo serviço, pelo enfrentamento com outros e acabamos por eternizar-nos nos outros: filhos, amigos, companheiros, espaços jamais vazios.
Natal é partilha, dança do “irá chegar”, beijos, abraços que têm sentido somente quando olhamos para frente e percebemos os outros.
Natal não é história, é estória, “pertence à eternidade”. Isso está imbricado em “... Se fez carne e veio habitar no meio de nós” para ver-nos (já nos vira), para falar a nós e nos escutar, para completar-se divino-humano à mesa conosco – celebração.
A palavra grega para comunhão tem coadjuvantes sinônimas: participação, cumplicidade. A celebração vira festa de loucos e inconfidentes, coparticipantes e mancomunados com o advento (vai nascer) de “um novo céu, uma nova terra, um novo mar”.
O não-lugar (utopia) é Natal por causa de toda essa cumplicidade na qual nos movemos nós de KOINONIA e se movem tantos outros, noutras instituições irmãs que se infiltram, cúmplices, com o fito de “natalizar” a vida mixuruca, globalizada, sangrenta, mal-cheirosa que nos estão impondo. Somente nos chamamos KOINONIA para gritar que não estamos sós, pertencemos todos à grande “comunhão dos disseminados”, que nos fazemos ‘proscritos’ a fim de sermos, todos juntos, inscritos entre os “oprimidos (que) numa só voz a liberdade irão cantar” (celebrar).
Aos milhares de companheiros-cúmplices de tantas outras instituições, neste País e na Oikoumene, oferecemos o refrão do Cântico dos Cânticos (5.16):
Vocês que se amam
Comam e bebam
Até ficarem embriagados de amor...
... Neste Natal e sempre, AMÉM