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MILITÂNCIA ECOLÓGICA E LUTA SINDICAL NO CAMPO
Ano 4 - Nº 18
Dezembro de 2009
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Artigo
 
A Terra está grave!
Por: Sérgio Ferrari – Genebra

O planeta está enfermo. E, como nosso próprio organismo quando enfermo, manifesta sintomas para chamar a atenção e reclamar a cura.
Sua temperatura corporal aumentou em média 0,74°C nos últimos 100 anos. Em algumas regiões superou 1,5° C. Durante todo o último milênio, a margem de variação da temperatura havia sido de apenas 1°C.
Causa principal desta explosão de calor: o aumento descontrolado da emissão de gases de efeito estufa de certas atividades humanas, como a combustão de carvão, petróleo e gás natural, assim como o desflorestamento em grande escala. Principais responsáveis por esta situação: as nações desenvolvidas.
Outro dado eloqüente: Durante 800 mil anos, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera esteve entre 200 e 300 ppm (medida que indica a quantidade de moléculas do CO2 para cada um milhão de moléculas de ar seco). Isto supera já 380 ppm, a marca mais elevada desde que a humanidade tem memória.
A ameaça de uma convulsão global – produto da febre – está às portas, com eventuais consequências apocalípticas: pólos descongelados, subida do nível dos mares , desaparecimento das costas, multiplicação de tufões e furacões, secas crescentes nos países tropicais, agricultura dizimada, flora e fauna ameaçadas, milhões de refugiados climáticos dispersos pelo mundo.

Os desafios de Copenhagen
Dentro de mais alguns dias, entre os dias 17 e 18 de dezembro próximo, Copenhagen, capital da Dinamarca, reunirá representantes do mundo inteiro na Conferência dos Participantes da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP 15), continuando assim os esforços de Bali (2007, COP 13) e Poznan  (2008, COP14). E a pergunta que vale um milhão continua sendo a mesma.

Como chegar a um acordo para evitar que a temperatura aumente mais de 2° nos próximos 40 anos? Com a hipótese científica de que esta marca possa constituir a fronteira da própria viabilidade da existência de vida no planeta. E, consequentemente, como reduzir em escala planetária a emissão de gases do efeito estufa?
Não se trata de acordos jurídicos. Existem já na Convenção do Clima de 1992 e no Protocolo de Kyoto que propõem mecanismos concretos.

O que está em jogo é a vontade política para definir responsabilidades históricas na deterioração climática. E, também, questionar o próprio conceito de crescimento e da lógica produtiva planetária. Temas de tal profundidade não deixam muita margem para otimismo.

A recente e fracassada reunião preparatória de Barcelona na primeira semana de novembro, convocada para preparar a Cúpula de Copenhagen, não fez mais que desnudar a falta desta disposição para negociação, particularmente das grandes potencias e muito especialmente dos Estados Unidos, que até agora não ratificou o Protocolo de Kyoto. Este obriga os países industrializados envolvidos a reduzir suas emissões até 2012 em cerca de 5,2% em relação às cifras existentes em 1990, ano que é tomado como referência.

Sobre a mesa, portanto, estão três temas essenciais que impossibilitam o consenso. Primeiro, medir o papel histórico de cada ator planetário na situação atual da deterioração climática, sem esconder a responsabilidade preponderante das nações mais desenvolvidas.

Segundo, tirar conclusões práticas, financeiras, contábeis, para que os demais que deterioraram o clima assumam sua responsabilidade e financiem os países “em desenvolvimento” (empobrecidos) tornando-lhes mais fácil enfrentar a deterioração climática com medidas mais concretas.

E, em terceiro lugar, ponderar o futuro, prevendo reduções significativas das emissões de gases destruidores por parte dos países desenvolvidos e “emergentes” (entre eles a China) para evitar o superaquecimento do planeta e possibilitar a continuidade de vida nele.

É um ABC tão simples quanto complexo. Copenhague se apresenta já como uma nova frustração climática. Enquanto isto, a Terra, já grave, continua piorando.

(Trad. Sérgio Marcus Pinto Lopes)

 

* Periodista argentino, colaborador de UNITE, plataforma ONG de voluntariado solidario Norte-Sur-Norte.

Fonte: Agencia de Noticias Prensa Ecuménica, Montevideo, Uruguay em 16/11/2009