|
Na oportunidade da 1ª OTN-RJ, a Dona Rosa da Farinha,
da comunidade da Caveira, nos solicitou que divulgássemos a seguinte carta,
que ela dirigiu ao governador do estado e permanece sem resposta.
São Pedro, 19 de fevereiro de 2001
A Paz do Senhor Irmão Garotinho!
Sou sua irmã em Cristo da Igreja Assembléia de Deus de Cabo Frio, do Pastor
Wanderlei Rodrigues Bento, me chamo Rosa Geralda Silveira, tenho 72 anos
e sou membro da comunidade rural negra da Fazenda da Caveira. Recebi em
minha casa, durante o período de 1998 e 1999, uma equipe de pesquisadores
do ITERJ e da Fundação Cultural Palmares para a produção do laudo antropológico
que reconheceu a comunidade como Remanescente de Quilombo e, além disso,
comprovou a antiguidade da casa e da casa de produção de farinha de minha
família. Por ser a única casa remanescente do período da escravidão, a equipe
de pesquisadores concluiu da necessidade da restauração da casa e da casa
de farinha, que atende a toda comunidade cobrando apenas os gastos com o
uso das máquinas (óleo e lenha).
Prezado Governador, venho por meio desta carta, pedir a rapidez na execução
do início das obras, agora não só por necessidade de preservação de um bem
material que se encontra em péssimo estado de conservação, mas principalmente
por uma necessidade física. Tenho sérios problemas respiratórios e recebi
recomendações de um médico sanitarista que deveria restaurar a minha casa
urgentemente, o que minhas condições econômicas me impedem. Por ser muito
antiga, ela guarda uma série de fungos, ácaros e cupins que são extremamente
prejudiciais à minha saúde. Nesses últimos meses, que são meses de chuva,
a bronquite se agrava em virtude da umidade e faz com que me torne cada
vez mais dependente do nebulizador.
Gostaria, por último, que minha solicitação não fosse interpretada como
sendo um pedido individualista que visa somente o benefício de um único
membro da comunidade. A restauração da minha casa é fruto da preocupação
de um grupo de pesquisadores que visava preservar o único bem material do
período da escravidão ainda existente da comunidade. E agora o que eu faço
é reafirmar essa preocupação não somente com o bem material histórico mas
com minha própria saúde.
Aproveito a oportunidade para refazer o pedido de titulação da posse de
nossas terras que vem sofrendo todo tipo de exploração, como a grilagem
e extração de areia, que tem transformado terras férteis em enormes áreas
improdutivas. Várias denúncias aos órgãos responsáveis já foram feitas sem
que nada fosse resolvido.
Desde já agradeço.
ROSA GERALDA SILVEIRA
|