ano 1    n° 3    maio/junho de 2001
   
 

Na oportunidade da 1ª OTN-RJ, a Dona Rosa da Farinha, da comunidade da Caveira, nos solicitou que divulgássemos a seguinte carta, que ela dirigiu ao governador do estado e permanece sem resposta.



São Pedro, 19 de fevereiro de 2001

A Paz do Senhor Irmão Garotinho!

Sou sua irmã em Cristo da Igreja Assembléia de Deus de Cabo Frio, do Pastor Wanderlei Rodrigues Bento, me chamo Rosa Geralda Silveira, tenho 72 anos e sou membro da comunidade rural negra da Fazenda da Caveira. Recebi em minha casa, durante o período de 1998 e 1999, uma equipe de pesquisadores do ITERJ e da Fundação Cultural Palmares para a produção do laudo antropológico que reconheceu a comunidade como Remanescente de Quilombo e, além disso, comprovou a antiguidade da casa e da casa de produção de farinha de minha família. Por ser a única casa remanescente do período da escravidão, a equipe de pesquisadores concluiu da necessidade da restauração da casa e da casa de farinha, que atende a toda comunidade cobrando apenas os gastos com o uso das máquinas (óleo e lenha).
Prezado Governador, venho por meio desta carta, pedir a rapidez na execução do início das obras, agora não só por necessidade de preservação de um bem material que se encontra em péssimo estado de conservação, mas principalmente por uma necessidade física. Tenho sérios problemas respiratórios e recebi recomendações de um médico sanitarista que deveria restaurar a minha casa urgentemente, o que minhas condições econômicas me impedem. Por ser muito antiga, ela guarda uma série de fungos, ácaros e cupins que são extremamente prejudiciais à minha saúde. Nesses últimos meses, que são meses de chuva, a bronquite se agrava em virtude da umidade e faz com que me torne cada vez mais dependente do nebulizador.
Gostaria, por último, que minha solicitação não fosse interpretada como sendo um pedido individualista que visa somente o benefício de um único membro da comunidade. A restauração da minha casa é fruto da preocupação de um grupo de pesquisadores que visava preservar o único bem material do período da escravidão ainda existente da comunidade. E agora o que eu faço é reafirmar essa preocupação não somente com o bem material histórico mas com minha própria saúde.
Aproveito a oportunidade para refazer o pedido de titulação da posse de nossas terras que vem sofrendo todo tipo de exploração, como a grilagem e extração de areia, que tem transformado terras férteis em enormes áreas improdutivas. Várias denúncias aos órgãos responsáveis já foram feitas sem que nada fosse resolvido.

Desde já agradeço.
ROSA GERALDA SILVEIRA



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